As Crônicas da Peregrina - O Mundo das Almas - parte 11
- Débora Novaski

- May 7
- 8 min read

Quando todos se acalmaram, fui para meu quarto, estava exausta devido a minha permanência nas dimensões mais baixas. Parecia que tinha ficado um bom tempo. A meu ver foi tudo muito rápido. Só que não. Foram alguns dias. Era engraçado, pois a contagem de dias no mundo espiritual é muito diferente da contagem de dias nas peregrinações. Mil anos na Terceira Dimensão pode ser apenas um dia nas dimensões mais altas. Parece que no total, as Crianças retornaram em sete dias para o Reino dos Céus. Eu havia ficado, pelo que Taqsar me disse, o total de 21 dias espirituais.
Ao me direcionar para meu quarto, o Mestre Orelyam me disse que havia um banho preparado para mim, uma mistura de óleos essenciais e plantas curativas com as águas do Rio da Vida, o objetivo seria de recarregar e equilibrar a minha energia. Deveria permanecer submersa, e que ao entrar, logo adormeceria. E quando estiver recalibrada, o despertar seria natural.
Me direcionei ao meu quarto, fiquei muito feliz e aliviada ao ver meu nome ainda escrito na porta, a maçanete ainda de ouro e meu quarto do mesmo jeito que deixei. Lá perto da janela estava a banheira que o Mestre Orelyam falou. Tirei as roupas e entrei.
- “Essas águas novamente...” - estava bem quente, ao redor da banheira havia pedras e quando pensei em contar as pedras, rapidamente adormeci. Submersa nas águas que saram. E algo muito estranho aconteceu...Meus olhos espirituais se abriram. Uma luz roxa emanava de minha cabeça, olhos e coração, como um feixe de luz que conectava os três em um. Tudo em todos. E em meio a luz, lá no fundo, ouvia uma voz me chamando:
- “Alma mortal Shey siga a Luz!!” – eu conhecia aquele tom de voz, mas não me recordava. Eu fui seguindo a luz roxa até que, uma visão começou a tomar forma e cores.
CICLO DOS 12 FRUTOS
SEGUNDO FRUTO
Eu estava submersa no Rio da Vida novamente e a Luz Roxa, o Sexto Espírito do Rei Elohim me envolvia e me conduzia ao destino. Como na primeira vez, parei as margens onde havia encontrado a Fé e a Esperança. Uma mão se estendeu para mim e disse:
- “Alma mortal Shey segure minha mão” – eu segurei e para minha surpresa, o dono daquela voz era alguém que não esperava estar ali.
- “Edév!! Que surpresa!!”.
- “Venha!! Vamos até a Árvore da Vida!!” – e com muita pressa, nos aproximamos da árvore e exatamente como a Fé a Esperança fizeram, ele fez também. Contou:
- “Primeiro Fruto. Segundo Fruto” – o arrancou e me ofereceu para comer. Eu peguei o fruto em minhas mãos e comi, enquanto mastigava, tive a mesma sensação de que uma parte da minha alma estava sendo curada e a outra estava morrendo, sendo sepultada. A morte do segundo ego. Da Violência.
- “É uma honra estar aqui! Eu era um assassino, uma alma que disseminava violência. Agora estou completamente regenerado” – e me entregou um vestido e mais uma pedra.
- “Parabéns Alma Mortal Shey! A Comandante Número Cinco! Você acaba de ganhar a Pedra Esmeralda! A sua Espada será para trazer a Verdade e a sua Fama para levar a Salvação”. Coloquei o Vestido Verde Claro e segurei a pedra verde azulada. A Pedra Esmeralda. Em minhas mãos podia sentir a energia que emanava, devido a sua limpidez e brilho: a energia da Cura.
***
- “Agora que você comeu do Segundo Fruto, está pronta para realizar uma cura muito importante. Eu quero que você olhe para a Pedra Esmeralda, pois ela quer te mostrar algo” – disse Edév.
- “Uma cura? Não compreendo... Algo já não acabou de ser curado em mim?” – perguntei e uma voz muito suave e aguda me respondeu:
- “Sim, minha querida Criança. Mas sempre precisamos de mais cura. O Segundo e o Terceiro Fruto são conectados entre si e estou aqui para te ajudar no processo” - respondeu uma mulher vestida de branco com uma capa rosa claro. Seu cabelo castanho estava preso em um coque envolto por um véu todo transparente com detalhes de flores rosas, muito brilhante. Em seu pescoço havia um colar de cristais contendo pedras de coloração rosa, transparente e dourada.
- “Por possuir uma capa, acredito que você seja Mestre. Como se chama?” – perguntei para aquela mulher muito meiga e gentil. Ao se aproximar de mim, notei que seus olhos eram rosas, logo conclui que estava diante da Mestre do Amor Incondicional.
- “Muito prazer Criança Número Cinco. Sou a Mestre Wanoera. Geralmente sou a responsável pelo Módulo 3 em seu treinamento. Mas visto que já ocorreu a morte do segundo ego, você está pronta para passar pelo meu Teste” – me explicou.
- “Mais um Teste? Qual Teste?”.
- “O Teste do Amor Incondicional. O tempo, querida alma mortal Shey, não cura nada, mas sim, o Amor Incondicional. Esse tem poder de curar tudo” – então ela me explicou que ao olhar para dentro da Pedra Esmeralda, teria uma visão da minha época de peregrina que necessitava de cura. Se fosse aprovada no Teste, estaria apta para continuar o ciclo dos Doze Frutos.
- “E se não conseguir, o que acontece?” – perguntei.
- “Você permanece com essa pendência em suas peregrinações”. Então, olhei para a Pedra Esmeralda e de repente uma imagem foi aparecendo. Uma imagem da Peregrina ainda criança. Muito criança...
- “O que está acontecendo Mestre Wanoera com a Peregrina? Ela é apenas uma criança!! Não quero mais ver... Não quero mais lembrar...Dói muito a alma” – e fechei meus olhos em meio as lágrimas.
- “Mas é necessário que traga a memória toda a dor. Você consegue, estou aqui para te ajudar. Você foi escolhida pelo Sétimo Espírito, do Amor Incondicional. Abra seus olhos e ajude a Peregrina. Ela ainda é uma criança, precisa da sua energia. Você não está sozinha aqui. Nem ela deve ficar sozinha lá” – me encorajou. Ela e o Edév me abraçaram. Respirei fundo. Abri meus olhos novamente.
ANO 5756
Segundo Ciclo de Peregrinações
Era um final de tarde de Domingo, e por um grande milagre minha mãe me deixou brincar com as outras crianças na rua. Uma correria que só. O portão da casa ficou aberto, toda suada e com a garganta seca de tanto correr, fui em direção a mangueira para tomar água e me refrescar um pouco. Olhei para minha casa e olhei para as crianças na rua brincando, se divertindo, com muitas risadas e alegria. Que tarde feliz eu tive. Aliás, os finais de semana eram os meus favoritos. Só os finais de semanas...Mas só a partir do sábado depois do almoço. Aí me lembrei do motivo e fiquei cabisbaixa... Era porque meus pais estavam em casa.
E no lugar da alegria, uma tristeza e angústia enorme começou a tomar conta do meu coração inocente. O Domingo já estava quase acabando... Logo, seria Segunda... Olhei novamente para as crianças brincando na rua com os olhos cheio de lágrimas e falei baixinho, com fé de alguém ouvir meu clamor de ajuda:
- “Será que eles também sentem o que eu sinto? Tristeza, angústia e medo? Será que eles também passam pelas mesmas coisas cruéis que passo durante a semana? Ou é apenas eu? E por quê? Qual o motivo de passar por isso? Não entendo... Ninguém percebe... Por favor, não aguento mais... Faz tanto tempo. Só queria que o Domingo não acabasse”.
Segurei as lágrimas sentindo meu coração muito acelerado. Terminei de tomar água e com toda inocência do mundo, voltei para a rua brincar. Vai que hoje meu pedido é concedido. Vai que a partir de hoje vai ser para sempre Domingo.
***
- “Peregrina vai para seu quarto agora!! Estou mandando!!” – falou aos berros.
- “Mas eu não fiz nada. Estou aqui sentada no sofá quietinha”.
- “Você prefere ir sozinha ou arrastada por seus cabelos? Vai me obedecer ou não?” – gritou em meus ouvidos. E rapidamente eu me levantei e fui para meu quarto novamente. Ela me pegou pelo braço bem forte, eu não podia chorar senão apanhava o dobro, então disse baixinho:
- “Mas eu te obedeci, vim para o quarto. Por que você me bate com tanta crueldade? Você nem é minha mãe...” – e quando questionava, era muito pior. Me deixava de castigo, ajoelhada olhando para parede por horas. E era assim... De segunda ao Sábado até meio dia.
***
- “Fiquei sabendo que você foi convidada para a festa de aniversário da minha sobrinha” – falou com ironia.
- “Sim, minha mãe me contou. Será no Sábado final da tarde” – respondi toda contente.
- “Você pretende ir sua pirralha?”.
- “Minha mãe disse que sim. Até já comprou presente”. E em gargalhadas falou:
- “Então acho melhor você começar a se despedir das suas bonecas...”.
- “Me despedir das bonecas?” – perguntei bem confusa. Ela se aproximou bem perto de mim e disse séria:
- “Se você aparecer na festa eu vou te sequestrar Peregrina. Você nunca mais vai voltar para casa”. E por toda semana me ameaçou. Eu estava morrendo de medo. Quando entrava no meu quarto, olhava a estante cheia de bonecas e ursinhos... No Sábado de tarde tentei inventar todo tipo de desculpas para não ir à festa, mas não teve jeito, minha mãe insistia para que eu fosse.
- “Mas Mãe... Não quero ir... Por favor!!” – insisti mais uma vez.
- “Peregrina vai ser tão legal. É claro que você vai...” – não adiantava. Então fui para meu quarto, olhando para as minhas bonecas na estante disse:
- “Vim me despedir de vocês!! Eu vou ter que ir à festa mesmo... Ela vai me sequestrar... Tomara que venda meus órgãos para o mercado negro igual eu vi no jornal ontem à noite...”.
CICLO DOS 12 FRUTOS
TERCEIRO FRUTO
Foi como um filme de terror contemplar tudo aquilo. Eu podia sentir a dor da Peregrina novamente.
- “Como posso ajudar a Peregrina?” – perguntei em meio as lágrimas.
- “Com a sua energia. Você possui duas pedras, a Rubi que traz força e vigor, e agora a Esmeralda que promove cura. Ao comer dos frutos, receber novas vestes e as pedras, a energia das pedras fazem parte da sua essência, você pode usá-las quando quiser” – disse a Mestre Wanoera.
Ela me explicou que deveria absorver a energia da pedra Esmeralda com a intenção de curar as memórias de dor da Peregrina referente ao segundo ciclo de peregrinação. E assim eu fiz. Respirei bem devagar para me acalmar, fechei os olhos e imaginei uma luz azul-esverdeada emanando da pedra e me envolvendo por inteiro.
- “Abra os olhos Número Cinco” – disse Edév admirado. E ao abrir os olhos, contemplei exatamente o que tinha imaginado, a luz da pedra me envolvia. Era muito aconchegante.
- “Agora que você liberou a energia da pedra, você precisa profetizar a cura e o perdão exatamente como o Rei Elohim te ensinou no Vale de Ossos Secos. Onde em sua alma ainda reina a morte para reinar a vida” – disse a Mestre. E assim eu fiz, levantei minhas mãos e declarei:
- “Eu deixo ir as memórias de dor e medo. Eu como sua alma, libero o perdão. Eu, alma mortal Shey, alma e espírito da Peregrina, encerro o ciclo deste mal em ação, quebro todo contrato de almas com as pessoas envolvidas. Eu não estou sozinha. Você Peregrina, também não está sozinha. Estou sempre contigo. Esse fardo não te pertence mais. Você é livre para não ter traumas. Você é livre para amar incondicionalmente. Você não irá guardar mágoa, dor, ressentimento, vingança, raiva...Você é livre para viver novamente!!” – enquanto profetizava, uma luz escurar e luz ia de dentro da pedra, e aos poucos, foi dando lugar a luz verde. A pedra ficou quente e brilhava muito.
- “Agora você está pronta, querida criança!” – disse a Mestre Wanoera e como Edév, apontou para a Árvore da Vida e contou:
- “Primeiro Fruto. Segundo Fruto. Terceiro Fruto” – arrancou e me deu para comer, e eu comi. E mais uma transformação ocorria em meu ser, a morte do terceiro ego. Da Crueldade e Ira. Ela me entregou outro Vestido, lindo, muito semelhante ao seu véu. O Vestido era Rosa e possuía uma renda de lírios em ouro. Muito bonito. Então, retirei o Vestido Verde e coloquei o Vestido Rosa. O Edév veio e me entregou mais uma pedra.
- “Parabéns Criança Número Cinco! Você acaba de ganhar a Pedra Topázio Rosa!! O seu coração bondoso e compassivo será para trazer União e Harmonia entre as dimensões e nenhuma maldição poderá te alcançar! Uma verdadeira Diplomata!!” –disse a Mestre Wanoera. Ao segurar a Pedra Topázio em minhas mãos sentia a energia da Purificação.











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