As Crônicas da Peregrina - O Mundo das Almas - parte 12
- Débora Novaski

- May 7
- 6 min read

Meu corpo todo relaxado e adormecido, foi aos poucos voltando com os sentidos e bem devagar fui despertando. O banho realmente recarregou minha energia. E devagar me levantei da banheira, peguei uma toalha e me enrolei e ao ficar de frente para cama, ali estava o Vestido Verde e o Vestido Rosa. E do lado, um colar contendo o Diamante Lapidado, a Pedra Rubi, a Pedra Esmeralda e o Topázio Rosa.
- “Nossa que lindo!! Parece o colar da Mestre Wanoera com vários cristais!” – disse toda empolgada. Lembrei da Latsa e Miyan novamente, como gostaria que estivessem aqui para ver os Vestidos. E uma saudade tomou conta do meu coração... Como será que todos estão? Fechei meus olhos e me lembrei do último abraço.
- “Ostem... Você pode me ouvir?” – tentei sintonizar nossa comunicação compartilhada, mas nada aconteceu. Eu estava na dimensão mais alta, era difícil sintonizar energias mais baixas. Então, tentei sintonizar através da Conexão.
- “Ostem... Como você está?” – perguntei para sua consciência.
- “Eu estou bem Shey. E você está feliz?” – respondeu com uma voz em meus pensamentos falhando. Estanho, parece que a consciência dele está fraca.
- “Sim, eu estou feliz e você?”.
- “Eu estou com saudades!”.
- “Eu também!!” – disse com as mãos em meu coração ainda toda molhada sentada na cama. Mas não estava triste. Ali, não havia tristeza.
- “Existe outro ciclo que não é o Ciclo das Peregrinações... Acredito que se você entrar no Rioque te falei, lembra? É o Rio da Vida!!Ele vai te levar para o Ciclo dos Doze Frutos... É isso!! Agora eu entendi a visão da Peregrina... Você precisa entrar no Rio!! Você precisa dar início ao Ciclo dos Doze Frutos. É assim que vamos nos encontrar novamente em separação” – eu comecei a falar sem parar, só que para minha surpresa... Não obtive resposta.
- “Ostem? Você me ouve?” - nenhum sinal. Bom... Pode ser porque ainda não sei dominar completamente a Conexão e me lembrei da minha época de Peregrina quando conheci, ou melhor, reconheci o Ostem em suas peregrinações. A Peregrina não entendia muita coisa, foi tudo novidade, como se fosse um quebra cabeça. Peça por peça... Até fazer todo sentido. Até se lembrar por completo.
ANO 5759
Sétimo Ciclo de Peregrinações
Era final da tarde, como de costume fui me encontrar com o Peregrino depois da aula junto com o pessoal. Eu cheguei um pouco atrasada e quando atravessei a porta da sala tive uma sensação de que não me era estranha... Essa sensação... De novo... A sensação da união das dimensões. Aqui não... Estou em público...Droga!!
- “Tente se controlar Peregrina! Por favor, não desmaie, nem tenha uma crise de vômitos. Tente não ficar tonta...Nem cair e muito menos chorar!!” – pensei repetidamente tentando me acalmar. Meu coração estava acelerado. De novo essa sensação. Mas eu orei para não ter essas experiências. Tanto tempo depois da primeira... Só que agora é muito mais intensa... Na primeira vez eu estava dormindo e despertei... Agora estou acordada!! Plenamente acordada!!! O mundo terreno e o espiritual se tornaram apenas um diante de meus olhos.
Avistei o Peregrino e fui em sua direção, uma voz em minha mente gritou de alegria:
- “Nossa!! Faz mil anos que não nos encontramos!! Que não o vejo!! Que felicidade!!!”. Como assim? Mil anos que não o vejo? Eu acabei de ver ele na parte da tarde na escola... E tudo começou a girar.
Ao cumprimentá-lo, ainda meio tonta e olhando em seus olhos, a mesma voz ficou nítida em meus pensamentos, essa voz reconhecia a alma dele. Então comecei a ver a alma do Peregrino e ver a alma da voz que falava comigo, que continuou em meus pensamentos dizendo:
- “Não posso acreditar que nos encontramos!! Que vamos ficar juntos!! Finalmente!! Ostem!! Que alegria te ver por aqui!! Vamos concluir nossa peregrinação em união!!” – e uma enxurrada de informações e memórias veio à tona em minha consciência. Um amor inexplicável. Uma união perfeita. Todas as lembranças de uma só vez. Muito difícil de meu corpo peregrino suportar tamanha experiência. Era como se eu e aquela alma estivéssemos unidas.
O Peregrino não me cumprimentou direito, estava diferente, distante e preocupado, isso deixou aquela alma muito decepcionada. A alma dele não reconhecia a alma Peregrina, estava cego por ilusões e havia escamas em seus olhos.
- “Você está fazendo tudo errado de novo!! Escolhendo o ego!! Escolhendo a separação!!” – falou a alma em um tom triste e ao mesmo tempo com raiva. Seu coração estava partido. Eu podia sentir o meu também se quebrando. Eu queria chorar muito por ela, mesmo não entendendo nada do que acontecia... E eu fiquei lá parada olhando para o Peregrino, sem saber o que fazer...
Ostem? Quem é Ostem? Que memórias de vida são essas? Com ele? Eu nem vivi tudo isso comigo mesma como Peregrina... Meu Deus... Eu estou ficando louca... Eu só quero um abraço amigo do Peregrino, mas parece que ele não vai mais me abraçar e eu nem sei a razão... Eu acho que eu vou desmaiar e vomitar... Preciso ir embora imediatamente. Esse lugar está cheio de pessoas... Vai que eu começo a ouvir e ver as almas delas também e me lembrar de coisas que não quero saber...
Estava tão transtornada, que ao invés de sair da sala e ir para casa, eu entrei e me sentei em uma cadeira. E fiquei lá, quieta. Quase imóvel. Segurando as lágrimas. Respirando devagar com meu coração saindo pela boca. Eu sou muito estranha. Não quero ter essas habilidades... Por quê? Por que eu? Eu estava muito triste com o Peregrino. E principalmente, comigo mesma. Separação? O que isso significa? Ele está escolhendo errado o que? E o mais esquisito é que ele está escolhendo errado “de novo”!! De novo? Como isso é possível?
Passou um tempo, o Peregrino disse que me acompanharia até a minha casa, eu não queria muito. Vai que eu começo ver a alma dele mais uma vez... Mas estava tão exausta, que aceitei. Eu não falei nada no caminho, pois não estávamos sozinhos. Eu queria muito poder falar com ele. Compartilhar. Eu confiava nele. Nem olhar direito para ele eu conseguia... Toda vez que olhava em seus olhos, é como se eu visse o tal do Ostem... Mas eu queria dizer... Eu preciso.
Cheguei em casa e fui direto tomar um banho para me acalmar. Chorei muito e parei com os questionamentos... Parei de tentar entender o que estava além do meu discernimento. Eu ainda estou amadurecendo espiritualmente, não consigo compreender.
***
Depois do acontecido, eu ficava muito nervosa perto do Peregrino. Eu ficava com minha mente completamente do avesso. Um turbilhão de sentimentos. Toda vez que estava perto dele, não havia constância em meu ser, era como se eu possuísse duas mentes e dois corações... E isso me estressava muito. Eu não sabia como agir, então reagia de uma forma não muito legal com ele. Uma tarde, em casa, estava tão inconstante que orei:
- “Espírito Santo, me ajude!! O que está acontecendo comigo? Eu sou a pessoa mais constante e decidida que conheço. Eu sei exatamente o que eu quero!! Como eu quero!! Exatamente todos os passos. Sou super estável e equilibrada. Não tenho dúvidas. Não tenho medo. E por que eu estou com minha mente e emoções tão bagunçadas? Está tudo um caos...” – e depois de chorar muito, ouvi uma voz suave falando em meu coração:
- “Minha querida Peregrina... Fique tranquila!! Esses pensamentos e sentimentos não são seus... São do Peregrino. Essa é a mente dele. Esses são as emoções dele. Esse é o seu dom”.
- “Mas é tudo um caos...Que mente mais confusa!! Quantas dúvidas e fantasmas... Quanta dor e medo... Como ele aguenta tudo isso? Por que ele não busca se curar?” – perguntei novamente, mas não obtive respostas. Eu entendi que o silêncio era a resposta. E a partir daquele dia, eu escolhi ter compaixão. Ser paciente com ele. Eu só posso ofertar amor sem esperar nada em troca, pois é o amor que pode curar todas as feridas.
Parece que aumentaram no volume máximo o rádio dos meus dons. E como uma esponja ambulante, absorvia tudo. E como uma antena ambulante, sintonizava tudo. Eu demorei para me acostumar e controlar tanta empatia, para aprender a proteger minha energia e equilibrar todos os dons.
***
Eu fui paciente e compassiva e por várias vezes tentei iniciar uma conversa com o Peregrino sobre tudo o que aconteceu, para tentar explicar... Para compartilhar... Sei lá... Desabafar... Mas ele não ficava mais confortável e nada amigável comigo. Tornou-se distante e áspero, por muitas vezes, até rude em suas palavras e atitudes. Ele não queria ouvir. Não queria me ouvir, pois para isso, ele precisaria se ouvir. Ouvir seus pensamentos. Ouvir seu coração. Organizar todo aquele caos... Muito trabalho...
Ele escolheu o caminho mais fácil: se fez de surdo e cego... Antes fosse mudo... Tive que ouvir muita coisa absurda que entristeceu meu coração, mas optei por ficar quieta, como uma ovelha indo ao matadouro. Não era suas atitudes que me magoavam... E sim, a falta delas...Agora entendo a decepção daquela Voz... Aquela Alma... A quem pertencia? E tudo o que me mostrou e falou aquele dia, aconteceu. A separação no lugar da união. A ilusão no lugar da verdade. O ego no lugar da simplicidade. A prevalência do medo no lugar do amor.











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